quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Julgamento na Caverna - Parte 1

Acordei abruptamente após um sonho ruim. Não lembro mais como foi o sonho. Isso não importa, o que importa é saber aonde eu estou.

É tão umido esse lugar... tão denso.. tão, tão assustador.
As paredes escuras, rudes e umidas. O teto tão denso quanto a noite. Este piso de areia gelada, com seus pedregulhos que destroçaram as minhas unhas.
Neste momento estou calmo, meu caro leitor. Apenas neste momento, porque horas atrás me chamava desesperado. Acordei de um sonho ruim e apenas avistei a escuridão. Chamei por todos, e por tudo. Arranhei minhas unhas nestas paredes ensopadas. Depois tropecei, cair de barriga e apenas fiquei mudo.

Com os olhos fechados, mergulhado na escuridão da minha vida. Amedrontado e confuso. Respirava o cheiro de terra molhada. Então na escuridão do meu ser, avistei uma luz intensa avermelhada. Esta luz crescia sem parar, com certeza iria me cegar. Ela aos poucos foi tornando-se roxa e tomando todo o espaço em volta a minha escuridão. Depois se tornou um azúl da cor do céu. Aos poucos foi surgindo nuvens, arvores, terras e um rapaz que corria entre as gramas altas. Esse rapaz era eu. Eu corria até o meu encontro. Eu parou em minha frente. Eu me perguntou, com um sorriso ironico:

"Quem é você?"

Se ele que sou eu não sabia então como eu que sou ele poderia saber?
Apenas soltei um "Ah!" que pareceu vagar por todos os lados.
Fiquei lá atônito, olhando para o meu ser. O odiava e o amava.

Então alguém segurou meu ombro, e derrepente todo aquele campo esverdeado desapareceu e voltei para a caverna escura.
Na escuridão, virei para trás. Quem me tocara?

Um velho, tipico dos contos de fadas, fumando seu habitual cachimbo sorriu para mim.
Então passou seu cachimbo para mim.

"Não, obrigado, parei de fumar"

Ele continuou mudo, com seu sorriso que parecia uma faca a me cortar. Odeio sorrisos ironicos. Sempre denunciam que a pessoa sabe algo de nós que ainda não sabemos.

"Quem é você?" Perguntei.
Ele soltou uma baforada. Estava sentado sobre uma pedra baixa e larga.

"Quem é você?" Ele perguntou.
Então sumiu. Logo percebi que a escuridão estava menos densa. O mundo aos poucos estava se desvendando.
Então lembrei de flashes do meu sonho. Não eram sonhos, e sim lembranças ruins da minha vida. Lembranças que fiz de tudo para esquecer. Mas o passado nunca se esvai, e a história de um homem não é só formado por coisas boas.
Sentei na pedra onde o velho estava, e peguei o cachimbo que ficara lá. Comecei a fumar, e recapitular a minha vida. Eu estava perdido na caverna da minha história, e compreendi que só sairia dali depois de saber definitavamente, a mais insurportável das questões: Quem sou eu?
 
TOPO
©2007 Elke di Barros Por Templates e Acessorios