terça-feira, 12 de agosto de 2008

O assaltante

Já havia se passado várias horas desde que, em pleno meio dia, um grupo de adolescentes resolveu assaltar o Banco Itaú. Trouxeram apenas alguns fuzis, coisa que ninguém sabe aonde conseguiram. Mas vamos aos fatos. Neste momento K. está com seu fúzil colocado na boca de um cidadão, enquanto lá fora dezenas de policiais negociam alguma solução para este caso incomun.

No momento eu sou um expectador desses acontecimentos, infelizmente ou felizmente, dependendo de como vai terminar isso aqui, eu acabei decidindo ir ao banco. Claro que nunca passaria na minha cabeça que adolescentes iriam entrar aqui e apontar armas sobre a minha cabeça.
Mas pouco importa. Não ache estranho você, que eu esteja relativamente calmo para quem está numa situação dessas. Eu lhe explico o porque: Esse K. me fascina! Não é o dinheiro que o faz ele e seus amigos assaltarem este banco, e sim a oportunidade de abrir os olhos do mundo. Ele é meu herói. Mesmo estando esse K. com um fúzil em minha boca, eu o considero meu herói.
Há poucas horas atrás eu o odiava, e junto com ele eu odiava toda a sociedade, que com seus meios acabam por criar pessoas como esse K. que só pensa em dinheiro, dinheiro e mais dinheiro. Mas em um certo momento K. começou a falar de algo que me impressionou...

"Porque eu não posso fazer isso? É errado fazer o que faço? O que é errado? Ah, parecem ignorantes! Policiais matam por prazer, pessoas matam por prazer! Eu sou louco? Quem aqui nunca teve vontade de pegar uma metralhadora e sair lascando com tudo, ou até mesmo achar um Death Note? Porque vocês acham que a Assótia do Sul está em chamas? Economia? Dinheiro? Países não comem suas próprias fezes para economizar, eles matam para ganhar dinheiro, mas apenas porque eles sentem prazer em matar e não perdem a chance de poder fazer isso, usando como sua auto-desculpa o fato de que é o futuro do país que está em jogo! Ah meu Deus! Não, não! O que eu faço é errado? Ainda não acabei com ninguém aqui, apenas assustei vocês, mas quem sabe do futuro?"

"Eu sou um filho bom, embora seja por puro fingimento, mas meus pais acham que eu sou um filho bom. Eu sou um aluno bom! Eu ainda estudo meus amigos, e não preciso de dinheiro, e não estou aqui por dinheiro. Estou aqui porque acordo e vejo nas noticias: Geórgia, Russia, guerra e guerra. Eu não suporto isso! Esse fingimento todo! Ah, pois tenho amigos leais, faço parte de uma geração que acabou por se acostumar com tudo isso aqui! Somos os filhos dos pós-guerras. Somos filhos do 11 de Setembro. Pois bem, eu venho aqui para abrir os olhos de vocês, o que tá acontecendo aqui? Me respondam? Porque todos vocês sonham com algo e fazem das suas vidas o oposto? Melhor, melhor! Me respondam, porque um chinês esfaquiou um casal de americanos, e depois se matou? Ele não era louco, eu não sou louco! Apenas quero que me respondam, aliás respondam se quiserem, apenas pensem! Agora eu me calo! E digo, termino com tudo isso aqui apenas quando me responderem! E não usem o nome de Deus, ou qualquer tipo de injuria, respondam apenas colocando vocês no lugar daquele chinês!"

E assim ele falou. Depois de um tempo, sem encontrar respostas para as suas perguntas, teve uma crise de sei lá o que, e agora está com esse fuzil em minha boca. Eu só sei que ele é fascinante, e ele conseguiu abrir meus olhos, e nada importa para mim agora.
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Devaneios insaciáveis de uma mente sem fim---Assiris
 
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